Elogio à Despreocupação
Hoje está um daqueles dias bruxelenses! Chuva, vento, frio. Sobre a secretária, um livro de Inglês espera que ganhe coragem para abri-lo e reiniciar o meu trabalho de tradução... Deixo-o estar e venho despreocupar-me. Um texto sem fim ou com todos os fins possíveis, uma bandeira feminina, alguns comentários que me deixam surpreendida, mas sempre o mesmo espírito, a mesma energia positiva que me captivou desde o primeiro instante, quando tive necessidade de escrever algo e, por mero acaso, descobri este cantinho. O melhor, porém, viria depois, ao conhecer as pessoas que aquecem este lugar, com palavras, imagens, questões que revelam uma Alma que tenta desdobrar-se e alcançar o que todos procuramos, desde o início dos tempos, a Verdade, a única Verdade!
Se pudéssemos realizar um trabalho intensivo de pesquisa sobre as reacções a cada um dos post deste blog, tenho a certeza que muito descobriríamos sobre este Verdade que muitos supõem escondida ou, talvez até, inexistente. Os limites da espécie humana revelam um horizonte cada vez mais distante, tanto para o lado das trevas, como para o lado da luz, e isso é que é maravilhoso. Não quero com isto dizer que estamos aqui a criar obras de arte, que o leitor se limita a observar, como se estivesse numa galeria. Não. É muito mais do que isso, pois não tem qualquer fim lucrativo, a não ser atingir o que mais valor tem para a existência humana, a sua própria realização.
Pensamentos exagerados, talvez, dada a quantidade de factos banais ou ainda abaixo destes que aparecem por aqui diariamente, mas não somos nós uma construcção feita a partir de tudo o que existe? Ou podemos pretender que a Verdade reside apenas no silêncio, na proclamação de valores universais ou na contemplação muda da beleza divina? Há muito mais em cada um de nós. E ainda bem.
Assim, Despreocupar-se acabou por tornar-se uma forma de agradecer à vida, com a criação de mais vida. Há Despreocupados que nunca se revelam, pela escrita ou pela imagem, mas percorrem também um caminho especial, pois acreditam que há sempre um raio de sol atrás das nuvens que persistem no céu. É por isso que se despreocupam e sorriem. Têm confiança e avançam. Um dia, ouviremos falar deles.
Espero que esta corrente nunca deixe de aumentar. O G8 será sempre o G8, o embrião, a origem, mas apenas de uma das muitas imagens por aí espalhadas, do apelo feliz de todos os que ainda acreditam. Não foi o primeiro. É mais um. Ainda bem.
5 Comments:
pois... agora queria comentar e não consigo.
Variando, venho cá por "isso" que me prende e solta ao sabor dos dias. Como um muro de algodão onde posso estar, proteger-me, e fortalecer-me.
É isso que vocês me fazem, com um sorriso que nasce sem saber de onde, de quando em vez uma pérola ao canto do olho que ri e chora como quem ama só porque existe.
Ai, ok, está a ficar lamechas, é de ser muito cedo num dia que se adivinha longo ...
*
Começaste por falar como começou o teu dia de trabalho... eu falo-te como está a terminar o meu...
Aqui no meu cantinho que eu chamo de catacumbas, pois apenas há umas janelinhas ao cimo da parede por onde entram ocasionalmente alguns raios de sol, a vista que tenho dessa mesma janelinha é um edificio branco que se encontra em frente cobrindo qualquer hipotese de ver o céu... num dos cantos vê-se ainda os ramos de uma árvore, algo verde, natureza... deve estar uma ligeira brisa lá fora pois as folhas agitam-se ao de leve... não será tudo isto uma metáfora da nossa existência...
Sem dúvida, uma das muitas imagens possíveis da nossa existência, mas já reparaste em todas as outras que a rodeiam? Já reparaste, afinal nas "profundezas do oceano"? Não digo viajar até lá, mas saber que existe um lugar assim, onde a beleza e a Verdade reinam; só essa certeza já será um motivo para continuar à procura da melhor forma de lá chegar. Depois, teremos a coragem de saír das catacumbas e de respirar o ar que a ligeira brisa nos oferece. Talvez até descubramos que, afinal, os ramos que víamos da janelinha pertencem a uma árvore enorme que, vista do lado de fora, tapa todo o prédio onde habitamos...
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