O amor e a sua correspondência
A banalização do telemóvel criou a ilusão do objecto omnipresente. Numa posição de omnipresença, um objecto de paixão passou a ter a "obrigação" da resposta imediata a qualquer estímulo, sob pena de provocar o sofrimento do outro.
A angústia da perda passou a estar associada a trivialidades - pode acontecer, vertiginosa, quando se esgotou uma bateria; ocorre quando o amor se passeia displicente em lugares sem rede; e pode disparar a níveis clínicos quando o objecto amoroso, usando um direito inalienável de autodeterminação, decide desligar o telemóvel.
No amor, o telemóvel fez disparar o stress, a ansiedade, as angústias da rejeição e outras malaises de la civilisation. Um telemóvel desligado é uma providência cautelar para uma ruptura. Um presumível sintoma de infidelidade. Um fechar com a porta na cara. Um não, uma nega, uma tampa.
O telemóvel é caro, mas o amor tende a minimizar o impacto económico das medidas a que, no auge da paixão, recorre. E depois há as sms, esse deslumbrante e mais económico instrumento de sedução, mas - também ele - uma grilheta dos amantes. Os segundos de resposta, os minutos, as horas, tudo é contabilizado para avaliar o impacto de um amor.
Institucionalizados os novos rituais do enamoramento, não importa se o objecto costuma estar sequestrado na Biblioteca Nacional ou vive em audiências contínuas com díspares personalidades; se, por qualquer razão que o coração se esforça por desconhecer, não vive com o maldito computadorzinho na mão, em permanente disposição de disparar uma resposta irredutível.
O mail tem um tempo mais distendido, se excluirmos as pessoas cuja profissão as obriga a estar permanentemente em frente do computador. Estas são ainda fustigadas com o monstro do messenger, que, de borla, obriga ao diálogo contínuo.
Mas a minha amiga Vanessa, que num estado de paixão patético tem passado o último mês a escrever mails ridículos, sms ridículas e a contar os segundos da resposta, teve um destes dias um inesperado e surpreendente ataque de felicidade amoroso: recebeu uma carta. Um postal dos correios. Um envelope com selo e tudo. Quando abriu a caixa e viu que não eram só contas, ia desfalecendo. Uma carta. Uma carta? Sim, só um grande amor.
A angústia da perda passou a estar associada a trivialidades - pode acontecer, vertiginosa, quando se esgotou uma bateria; ocorre quando o amor se passeia displicente em lugares sem rede; e pode disparar a níveis clínicos quando o objecto amoroso, usando um direito inalienável de autodeterminação, decide desligar o telemóvel.
No amor, o telemóvel fez disparar o stress, a ansiedade, as angústias da rejeição e outras malaises de la civilisation. Um telemóvel desligado é uma providência cautelar para uma ruptura. Um presumível sintoma de infidelidade. Um fechar com a porta na cara. Um não, uma nega, uma tampa.
O telemóvel é caro, mas o amor tende a minimizar o impacto económico das medidas a que, no auge da paixão, recorre. E depois há as sms, esse deslumbrante e mais económico instrumento de sedução, mas - também ele - uma grilheta dos amantes. Os segundos de resposta, os minutos, as horas, tudo é contabilizado para avaliar o impacto de um amor.
Institucionalizados os novos rituais do enamoramento, não importa se o objecto costuma estar sequestrado na Biblioteca Nacional ou vive em audiências contínuas com díspares personalidades; se, por qualquer razão que o coração se esforça por desconhecer, não vive com o maldito computadorzinho na mão, em permanente disposição de disparar uma resposta irredutível.
O mail tem um tempo mais distendido, se excluirmos as pessoas cuja profissão as obriga a estar permanentemente em frente do computador. Estas são ainda fustigadas com o monstro do messenger, que, de borla, obriga ao diálogo contínuo.
Mas a minha amiga Vanessa, que num estado de paixão patético tem passado o último mês a escrever mails ridículos, sms ridículas e a contar os segundos da resposta, teve um destes dias um inesperado e surpreendente ataque de felicidade amoroso: recebeu uma carta. Um postal dos correios. Um envelope com selo e tudo. Quando abriu a caixa e viu que não eram só contas, ia desfalecendo. Uma carta. Uma carta? Sim, só um grande amor.
Ana Sá Lopes
Assim vai o mundo...
1 Comments:
Very best site. Keep working. Will return in the near future.
»
Enviar um comentário
<< Home