Despreocupadamente: Férias em Portugal

segunda-feira, agosto 07, 2006

Férias em Portugal

De regresso a Bruxelas. Foi a primeira vez que senti o verdadeiro sabor da palavra férias. Vivi Portugal. Fui Portuguesa, mais do que alguma vez tinha sido. Apaixonei-me pelo Porto. Namorei Lisboa como quem vive o primeiro Amor. Deixei os odores a eucalipto e a mar se misturarem. Comi sardinhas, pastéis de Belém, francesinhas e até bolo rei. Bebi vinho do Porto e sangria. Dancei música pimba e de salão. Dei o meu sorriso a velhos, de olhos contentes. Acariciei o rosto de outros mais tristes. Aprendi a coreografia da Floribella e voltei a acreditar em príncipes. Fui ao Centro Cultural de Belém e descobri que a luz nasceu ali, entre o azul do rio e o azul do céu. Conheci crianças tão crianças, que me levaram a esquecer os meus 23 anos e a confundir-me com elas. Repeti vezes sem conta a expressão feliz, "Portugal é lindo!". E Portugal é realmente lindo, de uma beleza inexplorada, viva, intensa.
Claro que, para além de Portugal, há os Portugueses. E também os há lindos. Há aqueles que abraçam, choram, discutem, gritam e depois voltam a abraçar. Há aqueles que beijam, abraçam e voltam a beijar. Há as avós, impérios de sabedoria e mimos, tão pouco estimadas. Lindas! Há a família, oásis ou deserto, mas sempre família, célula primeira, apesar de tudo. Há os desconhecidos que dizem Boa Tarde. Lindos! Há os conhecidos que viram a cara, mas também os há lindos -são aqueles que param e conversam, olham nos olhos e saisfazem-se com o encontro. Depois, há os amigos, os que eram e deixaram de ser, os que eram e continuam a ser, e os que não eram, mas passaram a ser. E, na escala da beleza, os amigos ocupam o primeiro lugar. São lindos, pronto. Partilham experiências, vivências, carências e outras ências tais. Estão lá e isso é que importa. Sobretudo se são Portugueses, também. São a família que se escolhe e, por isso, nunca chegam a ser deserto. Ou são oásis ou não são nada. Tardo-me na referência aos amigos, pois estas férias também me trouxeram outras descobertas em matéria humana (ou simplesmente Portuguesa, talvez), graças... aos amigos, pois claro.
Este grupo foi criado com bastante entusiasmo e amizade. Uniram-se as diferenças de oito Despreocupados e criou-se uma força capaz de atraír leitores atentos, de contagiar mundos distantes, de levar a amizade a mais corações. E este grupo é Português, sem dúvida. Não hesitou em acolher mais um membro. Não deixou um comentário sem resposta, mesmo se silenciosa. Rapidamente, a restrição a oito vozes iniciais passou à comunicação sem limites.
No entanto, neste meu regresso a casa, o meu querido Portugal, deparei-me com mais um traço de quem é Português - a inclinação para a arte. Percebi que somos bons a pintar, a desenhar, a falar, a escrever. Falta-nos a acção. Falta-nos a garra de largar tudo o que estamos a fazer e ír vêr dos amigos com quem, ainda há pouco, falávamos no msn ou felicitávamos no blog. Falta-nos o empurrão para estender a discussão à mesa das discussões e nos deixarmos de metáforas. Aprendi a dar valor a estes momentos no msn ou no blog, pois o longe torna-se insignificante, quando estou realmente longe. Mas, foram também estes momentos que me levaram a exigir muito mais quando estou perto. Faz-me falta o toque, o abraço, a palavra amiga, a gargalhada conhecida. Faz-me falta o contacto, o nosso contacto tão Português. O post com mais comentários da história do blog. E o resto? Falta-nos, às vezes, a compreensão desta beleza que é a amizade Portuguesa, por ser única no mundo. Aqui, a realidade é outra. Há individualismo, frieza, calculismo, independência. Sei que ainda somos diferentes. Sei-o graças ao Portugal que me recebeu nestas férias, nos braços de Amigos, sem medo de o serem. Obrigada, Ana, Daúde e mano, exemplos dos que são Lindos nesse país! Tinha de prestar-vos esta homenagem simples, mas muito sentida, pois são exemplos assim que me arrancam o sorriso mais rasgado e Português do mundo! Desculpem-me, apenas, o atraso, mas andava a abraçar o país o mais que podia, enquanto podia.
Restantes Despreocupados, mantenham-se Amigos! Apesar de tudo, apesar de todos. Regresso a Bruxelas. Continuo a acreditar que a Arte de ser Português ainda se transformará em Ser realmente Português. Continuo a ser Portuguesa, mas depois destas férias, penso que o nosso país merece que o demonstre. Estou feliz.

3 Comments:

At 08 agosto, 2006 14:33, Blogger Green Tea said...

:D

obrigada pela parte que me tocou ... e por tudo o resto.

é... portugal, esse mundo por descobrir, cheio de pessoas por conhecer e ver e apre(e)nder, cheio de intensidade. é bom ler alguem falar assim sobre este país que tantas vezes anda de ombros descaídos

 
At 10 agosto, 2006 07:07, Blogger Rogério Junior said...

Reviver Portugal pelas tuas palavras é algo sublime, reviver amizades, cores e sabores, tocar fundo e regressar.
Olhos já brilhantes, um gostinho a saudade...
O mar e o rio, o azul do céu e mais um pouco de canela, um jarro vazio e pausas de cinco minutos, as palavras e as gargalhadas...

A minha homenagem é a ti Mana, pelo Viver, pela força, pela energia e por existires...

 
At 10 agosto, 2006 16:40, Anonymous Anónimo said...

É de pessoas assim que um país precisa para crescer,pessoas as quais foram citados neste "desabafo".Não sou português mas tenho no sangue traços de descendência que não coseguiram ser provados mas que bate no meu coração.Admiro muito esse país , essas pessoas e pricincipalmente você...

 

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