Despreocupadamente: Perspectivismo

terça-feira, abril 25, 2006

Perspectivismo

Saí da aula de Filosofia, a última do ano, infelizmente, com a mente a dar voltas. Então não é que na minha aula preferida aprendo que o Nietzsche defendia a existência de dois tipos de moral: a dos mais fracos e a dos mais fortes? Segundo ele, a moral dos mais fracos consiste em inventar um paraíso, um mundo à parte, onde reinam valores como a igualdade, a justiça e a solidariedade. Nesse mundo, os fracos encontram refúgio, tendo em conta a sua incapacidade de se afirmarem no mundo real. Assim, desprezam e criticam os mais fortes, pois têm medo e é desse medo que retiram a ideía de paraíso, defendida pela Igreja, pelo comunismo (igualdade entre classes) e por todos os partidários de uma realidade perfeita, exista ela após a morte ou num futuro ainda distante. No entanto, segundo ele, a perfeição é a ilusão suprema.
A moral dos fortes, essa, constrói-se a partir deste mundo, onde vivemos e onde podemos afirmar-nos. Ser feliz não é mais que realizar-se, sem se importar com os outros, pois os fortes não têm qualquer tipo de obrigação para com os fracos, segundo Nietzsche. E aqui é que a porca torceu o rabo.
Pertencendo eu à classe dos fracos, com as centenas de medos que me impedem, tantas vezes, de afirmar-me, fiquei a ouvir atentamente o discurso da professora e, como só acontece nestas aulas, quase consegui entrar na mente de Nietzsche. Realmente, ele tem razão. O medo impede-nos de aceitar as nossas fraquezas e de as combater. O medo torna-nos mais fracos. Mas, quanto a ideais como solidariedade e paraíso, fiquei de pé atrás. Vim para casa a pensar na minha vida, enquanto catequista. Falo de Jesus e do paraíso às crianças. Mas, na minha perspectiva, esse paraíso realiza-se em vida, através de boas acções, através de uma vida digna, justa e boa. No entanto, essas boas acções não podem existir sem os outros. Será esta perspectiva mais um dos pensamentos de alguém que é fraco? Pois, estava eu a pensar nisto, quando abri o mail e lá estava o Evangelho Quotidiano, que já dei a conhecer aos Despreocupados que se deram ao trabalho de lêr o meu último post até ao fim. E não é que São Marcos respondeu às minhas questões, através de uma outra perspectiva? Passo a citar o comentário efectuado à passagem da Bíblia Ma 16,15-20: A história de Marcos apresenta-nos um caso de mudança ainda mais rara: a passagem da timidez a uma segurança definitiva. Com efeito, se é difícil dominar paixões violentas, ainda é mais difícil superar a tendência para o temor e o desalento, essas pequenas cadeias que paralisam alguns. [.] Admiremos pois, em São Marcos, uma tão espantosa transformação: "pela fé, o fraco recebeu o dom da força" Mesmo que esta não seja mais que a moral dos fracos, é aquela que me parece menos comparável à força do individualismo que assola o mundo hoje-em-dia. E, sendo a que menos se pode comparar à destruição de todos os valores, é a que prefiro. Sendo ou não a dos fracos. Se é fraco olhar para o outro e vêr nele alguem com as mesmas características que eu e que, por isso, merece o mesmo respeito e as mesmas oportunidades, então prefiro continuar a ser fraca. De qualquer forma, sei que Nietzsche tem razão, quando fala da incapacidade de impôr-se, do medo, do ressentimento e angústia que daí advêm, mas, para não correr o risco de passar para o lado dos fortes, neste meu combate contra a timidez e falta de coragem, prefiro o caminho de Marcos, a fé. Acredito que poderei mudar, peço a força para o fazer e cá dou o meu empurrãozinho. Passar por cima dos outros é que não. Que me desculpe o Nietzsche.

3 Comments:

At 25 abril, 2006 11:05, Blogger Lígia Mendes said...

E, ainda por cima, tem um nome complicado. Tive de fazer copiar-colar, para não me enganar na ordem do Z, do S e do C .......

 
At 26 abril, 2006 20:48, Anonymous Anónimo said...

Sou e serei sempre fraco!Porque acho que os fracos são pessoas normais,que tem acima de tudo o respeito pelo pròximo e que igualdade,justiça é possìvel mas sò depende de nòs.

 
At 21 julho, 2006 23:04, Anonymous Anónimo said...

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