Vertigem

Em resposta a um desafio lançado aqui

(...) E então compreendeu....

que a noite já se desfizera, não tinha dormido, tentativa vã de não perder a força que ela lhe trazia.
Tudo lhe parecia saido de um sonho, daqueles que tinha apelidado de pesadelo. Mas estranhamente real. Pensou que talvez fosse a realidade tantas vezes procurada que finalmente viera ao seu encontro, na sua forma mais crua, impelindo a chuva contra o chão, e fazendo-a cair também...

Um grito mudo que se soltou ecoava pelo passeio perdendo-se nas arestas de uma calçada com histórias para contar. E quando os destroços do mundo a que chamavam civilização absorveram todo o seu ruído caiu novamente no silêncio. Quente. Pesado. Demasiado pesado. Demasiado quente.

Tentou não pensar. Era o instante exacto para descobrir por si própria que também conseguia agir como um autómato e reagir instintivamente.

Levantou-se lentamente, primeiro sentada, depois conseguiu, finalmente, colocar apenas os pés no chão e caminhar. Não conseguiu mais do que um passo brusco , no vazio, que a fez encostar-se contra uma árvore quente. Demasiadamente quente. E o calor que se instalava no corpo libertava-a da realidade, da chuva, da luz... dos estilhaços do mundo...

Voltou-se a sentar e um sopro ruidoso atirou-a novamente ao chão. Daí a pouco tempo conseguiria levantar-se e caminhar, tinha a certeza disso, mas agora deixava-se ficar, a aprender, a descobrir, a sobreviver...