Despreocupadamente: Despreocupadamente... vivendo...

sexta-feira, março 10, 2006

Despreocupadamente... vivendo...

Há momentos que não duram mais do que o tempo necessário para se tornarem eternos. Um dia, conheci uma rapariga perdida entre sonhos e realidade, que me disse que se sentia só. Falei-lhe das estrelas, da lua, do sol, da natureza que nos rodeia. Falei-lhe de família, de amigos, de laços que perduram. Conceitos, pensou ela. Mas, sorriu-me, fingindo que concordava. Ía-se embora. Atrás dela, deixava dúvidas, incertezas, medos. Partia, mas não sem olhar para trás. Eu sabia que ela não tinha a certeza do que fazia. Mais uma vez, não era capaz de ter a certeza. Mas, ainda assim, disse-me adeus e, com o rosto iluminado pelas lágrimas, afastou-se. Nunca mais soube nada dela.

Aqui há uns dias, recebi uma carta sem remetente. O meu nome, de letras cuidadosamente alinhadas, fez-me estremecer. Abri-a:
M,
Tinhas razão. A vida é muito mais do o campo formado pela nossa aura. Ela cresce e desenvolve-se à nossa volta, mas tem uma força tal que se torna, às vezes, insuportável. Não conseguimos vencê-la nem juntarmo-nos a ela. Por isso, ficamos sentados, a vê-la passar. Às vezes, há alguém que passa e que olha para nós. Estende-nos a mão e lá vamos nós, ao ritmo alucinante da vida, a criar sonhos e a semear alegrias, a deixar o nosso coração soltar-se das amarras que lhe impusémos enquanto esperávamos. Percebemos que ter vergonha ou medo é perder a corrida da vida. É deixar o que realmente importa à espera que apanhemos o comboio.
Querida M, eu apanhei o comboio. Ainda não era tarde. Sinto-me tão feliz. A vida palpita em mim e eu deixo-a brincar nas minhas mãos, como se fosse uma criança. Era tão fácil. Oh, como era fácil! A rapidez da corrida deixa-nos tontos, às vezes. É o momento de nos apearmos e nos sentarmos junto à linha. Mas, não para vêr os outros comboios passar. Não! Sentamo-nos para sentir o ar fresco a bater-nos na cara e os raios de sol a atravessarem-nos o peito. Sentamo-nos. Decidimos qual será o próximo comboio. Mas, não desistimos da corrida. Nunca.
Beijos,
E.


Pus-me aqui a pensar. À espera do comboio? Talvez. Escrevo, pois ajuda-me a esperar. Há sempre alguém a estender-nos a mão. Não é um milagre? Sei do que falas, amiga. Há pouco tempo, conheci, sem conhecer, oito pessoas que me estenderam a mão e que me fizeram entrar na corrida... Mas, esta história fica para outra vez.

1 Comments:

At 11 março, 2006 13:26, Blogger Rogério Junior said...

Aqui te leio com muito prazer. No palco principal desta peça que também é tua!

A vida também é uma peça mas que não permite ensaios, li uma vez por aqui. Ou uma viagem de comboio, com várias paragens, com vários caminhos. Uma viagem alucinante que tentamos controlar sofregamente sem sucesso. Esperamos sempre por um comboio perfeito, por um destino conhecido, deixando passar tantas vezes o "tal" comboio que nos levaria ao céu.

De que serviria vivermos se não o pudessemos partilhar com quem amamos?

A mão estará sempre estendida. Sempre.

"Porque não há girassóis em todas as janelas?"

 

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