Despreocupadamente: estações...

quinta-feira, março 09, 2006

estações...


Não existe nada mais triste do que uma estação terminal. A beleza de uma linha férrea é a sua continuidade, o padrão interminável, madeira sim, madeira não, a estender-se para um lugar que os olhos não vêem mas o coração adivinha. Fico de pé, junto ao carril, e imagino aquela força que passa sem se deter, o delicioso impacto do vento que me empurra para trás sem me tirar do lugar; o som, depois o som perdendo-se enquanto galga os espaço de uma descoberta constante, lado a lado com o adolescente que nos olha do banco de trás de um carro. Uma revista aberta, um sono em recuperação, um olhar para o horizonte sem sincronia possível com o pensamento.
Uma estação terminal é um lugar triste. Uma parede que é um nada. Há-de haver um. Há-de haver um dia um comboio que, com a sua pesada vontade, não se deterá. Há sempre um. Por cada comboio que passou vem sempre outro a caminho.

Miguel Tomar Nogueira

2 Comments:

At 10 março, 2006 17:05, Blogger Lígia Mendes said...

Mano,
Só li o teu post depois de ter escrito no Mundos. Não acredito em coincidências. Nunca.

 
At 11 março, 2006 13:28, Blogger Rogério Junior said...

"Há-de haver um dia um comboio que, com a sua pesada vontate, não se deterá." ...
Havemos um dia poder olhar para trás e dizer - "Houve um dia em que conduzi um comboio..."

 

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